quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Questão Ética, o que a Bíblia diz sobre isso

Introdução

O mundo atual está em constante mutação, isso por causa do fenômeno da globalização. Com raríssimas exceções, não há mais uma cultura intacta, hermética, que não seja acessada pelos meios de comunicação de massas, que estão interferindo em quase todas elas com uma facilidade e intensidade nunca vistas. Aquilo que a tempo atrás era um valor absoluto, aceito por quase todos, hoje está sendo questionado e mudado, como por exemplo, a honestidade sendo trocada pela esperteza; a indissolubilidade do casamento sendo trocada pelo divórcio sem razões bíblicas que o justifique; a heteroxidade sendo trocada pela homossexualidade, e assim por diante.

Isso tudo que está acontecendo e se avolumando cada dia é uma crise ética de proporção nunca vista. É o aumento da iniquidade, um dos sinais da segunda vinda do Salvador, e a consequente consumação de todas as coisas.

Neste artigo iremos abordar a crise na ética, e o que a Bíblia diz sobre o assunto.

I – Ética, Etimologia, conceitos

A palavra ética é de origem grega “ethos”, e significa modo de ser, caráter, comportamento. Dentro do estudo da ética temos uma vertente que enfatiza a moral, palavra esta derivada do latim mos, mores = costume, que segundo o Dicionário Larousse, significa, dentre outras coisas, regras de conduta que regem uma sociedade; conjunto de princípios e valores que regem as normas sociais; princípios da honestidade e do pudor; moralidade. Baseado no significado da palavra Ética, com ênfase na moral, a conceituaremos assim: Ética é conjunto de valores ou princípios que norteiam a vida cultural de um povo. Acrescentando ao conceito acima a variável cristã, podemos conceituar Ética Cristã como segue: Ética
Cristã é o conjunto de valores e princípios estabelecidos nas Sagradas Escrituras que norteiam a vida do povo de Deus.

II – A Fonte da Ética Cristã

Tratando-se simplesmente de ética (moral) podemos extrair das Escrituras que os valores inatos dos seres humanos advêm da benção do homem ter sido criado a imagem e semelhança de Deus. É a Imago Dei (imagem de Deus) implantada no homem por ocasião da criação. “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” Gn 1.27. (Veja ainda Gn 2.7). Essa imagem de Deus mesmo deteriorada por causa do pecado, ainda conserva no homem a consciência do que é certo e do que é errado, do bem e do mal, conforme explicado por Paulo quando escreveu aos Romanos, mostrando o estado pecaminoso do homem diante de Deus. “os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” Rm 2.15.

Para o povo de Deus, além do reflexo da Imago Dei nele, ele tem uma regra de fé e prática, ou melhor, um código de ética dado pelo próprio Deus através das Sagradas Escrituras. Esse código ético é encontrado tanto nas Escrituras do Antigo como na do Novo Testamento. “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” 2 Tm 3.16,17. O Espírito Santo foi dado ao crente em Cristo para ajudá-lo a cumprir o código de ética de Deus para o Seu povo. (Jo 14.26; Gl 5.22).

1) A Ética do Antigo Testamento


A lei dada por Deus ao povo de Israel divide-se em três partes: a lei cerimonial, a lei civil e a lei moral. A lei cerimonial cumpriu-se totalmente em Cristo não sendo obrigado ao cristão obedecê-la, pois Cristo já fez isso por nós na cruz. A lei civil foi dada por Deus para disciplinar o relacionamento entre os israelitas no que se refere ao viver numa sociedade agropecuária, inclusive é ela hoje uma das fontes do direito nas sociedades evoluídas. A lei moral, sintetizada no Decálogo (os dez mandamentos), é o grande código de ética do Antigo Testamento. No Decálogo temos mandamentos éticos que tratam do relacionamento do homem com Deus (os quatro primeiros) e mandamentos que disciplinam o relacionamento ético entre os seres humanos (os seis seguintes). (Veja o Decálogo em Ex 20.3-17 e em Dt 5.7-21). Esse código de ética era tão importante aos olhos de Deus, pois revelava a Sua vontade, que Ele determinou que os pais o transmitissem aos seus filhos. “E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te” Dt 6.6,7. Ainda a relevância desse código de ética era tal para o povo de Deus do passado que a transgressão de alguns de seus mandamentos implicava na pena de morte para o transgressor.

2) 2) A Ética do Novo Testamento


A lei moral não caducou, ela é também o código moral do Novo Testamento, ela foi ratificada por Cristo em sua totalidade, com exceção do mandamento da guarda do sábado que Ele, como Senhor e Deus, mudou para o domingo, o primeiro dia da semana, que foi o dia da Sua ressurreição. O Senhor mudou o dia, mas não mudou o princípio do sábado, que é: do tempo semanal que Deus nos deu, um dia foi reservado para adoração e descanso.

Junto com a lei moral temos o sermão do monte proferido por Jesus no início do seu ministério e as instruções constantes das epístolas do Novo Testamento. Leia o sermão do monte que se encontra nos Evangelhos de Mateus (capítulos 5, 6, 7) e de Lucas (capítulo 6.20-49). Equivocadamente um segmento evangélico expressivo ensina que o sermão do monte não é um código de ética para o cristão e sim para os participantes do reino milenar. O Mestre foi claro e enfático em mostrar que aquilo que Ele proferiu naquela ocasião é para observância da Sua Igreja em todas as épocas. (Veja Mt 7.24-27).


III - A Ética na Igreja

É do conhecimento de todos que a Igreja, tanto na sua expressão universal como na sua expressão local, desde que esta última tenha sido estabelecida de acordo com o padrão neotestamentário, é uma instituição divina. O padrão ético determinado por Deus para aqueles que professam o nome de Jesus é altíssimo. “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” Mt 5.20. (Veja ainda Mt 5.13,48; Hb 12.14; 1 Pe 1.15,16).

A ética na Igreja envolve os relacionamentos do homem com Deus, com os seus irmãos na fé, e com os outros que não professam a fé cristã.

1) 1) A ética na Igreja contempla o relacionamento do crente com Deus


O crente tem um relacionamento íntimo com Deus através de Jesus Cristo. Ele é identificado como um filho adotivo de Deus. Como filho o cristão deve viver uma vida ética no que se refere à obediência incondicional a vontade do Pai Celeste. “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” Jo 14.15. (Veja ainda At 5.29). Nessa relação, a comunhão com Deus tem papel preponderante. Deus é santo e exige que aqueles que se relacionam com Ele vivam uma vida de santidade, ou melhor, viva uma vida ética que Lhe agrade. “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Am 3.3. Qualquer coisa que não seja eticamente correta aos olhos de Deus atrapalha a nossa comunhão com Ele, atrapalha a nossa vida cristã. “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” 2 Tm 2.19. (Leia 1 Pe 1.15,16).

2) 2)) A ética na Igreja contempla o relacionamento do crente com os seus irmãos na


A Bíblia Sagrada revela que os crentes em Cristo fazem parte da família de Deus. Deus é o Pai dessa família (Ef 2.19). Os crentes são identificados ainda como irmãos em Cristo (Mt 23.8). A nota dominante no relacionamento ético entre os cristãos é o amor, ágape (o amor de Deus derramado pelo Espírito Santo no coração do cristão). “E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” Rm 5.5. O mandamento de “amai-vos uns aos outros” é um dos mandamentos mais repetido pelo Senhor Jesus no Evangelho de João. “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” Jo 13.34. (Veja ainda Jo 15.12; 15.17). Os apóstolos Paulo, Pedro e João enfatizaram esse mandamento (Rm 12.10; 1 Pe 1.22; 3.8; 1 Jo 3.11,23; 4.7; 2 Jo 5). Quem ama, disse Paulo, não faz mal ao seu próximo. (Rm 13.10).

3) 3) A ética na Igreja contempla o relacionamento dos crentes com os não crentes


A orientação ética da Palavra de Deus disciplina o relacionamento do crente com o não crente, mesmo eles sendo identificados como ímpios aos olhos de Deus, como estando mortos em seus delitos e pecados, e como sendo inimigos de Deus, senão vejamos: “Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” Gl 6.10 (grifo nosso). “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” 1 Tm 2.1,2. (grifo nosso). (Veja ainda Rm 13.1; Tt 3.1,2).

As mulheres crentes, por exemplo, são orientadas pelo código de ética bíblico a serem submissas aos seus respectivos maridos mesmos sendo eles descrentes. “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio marido, para que também, se algum não obedece à palavra, pelo procedimento de sua mulher seja ganho sem palavra, considerando a vossa vida casta, em temor” 1 Pe 3.1,2. (Veja 1 Co 7.13)

IV – Ética nas pequenas coisas


Falamos no item III que a ética cristã excede em exigência a qualquer outra ética no mundo. Como Deus é puro e essa pureza é de forma absoluta (veja Hc 1.13), o que Ele exige para aqueles que são deles é que vivam na luz, sendo éticos em tudo, inclusive naquelas coisas que achamos que não há mal algum.


1) Pequenas coisas que comprometem o viver ético do cristão


Muitas coisas poder-se-iam ser elencadas nesta lição sobre a questão da ética em pequenas coisas, mas citaremos apenas algumas delas: Aquela mentirinha que dizemos de vez em quando (Cl 3.9). Aquelas piadinhas de crentes que proferimos, às vezes até envolvendo o santíssimo nome de Deus (Ef 5.4). Aquele compromisso que assumimos e “nos esquecemos” dele (Pv 18.7). Aquela palavra empenhada que não nos preocupamos em cumprir (Mt 5.37). Aquele sentimento mesquinho que nos faz reter aquilo que é de Deus, o dízimo e as ofertas (Ml 3.8); aquela maledicenciazinha que propagamos com regozijo sobre as fraquezas de nossos irmãos em Cristo (Tg 4.11); aquele comentário descaridoso que fazemos sobre uma atitude de um irmão nosso que não gostamos (Tg 4.11); aquele boicote que se faz para desestabilizar o ministério dos líderes da Igreja porque não concordamos com as suas diretrizes (Hb 13.17); aquele corpo mole que fazemos ausentando-nos de alguma atividade na Igreja porque não vamos com a cara do dirigente, mesmo tendo dons e capacidade para fazê-la (Cl 3.23); aquele livro que pedimos e nunca devolvemos ao seu possuidor (Mt 21.3); aquele dinheiro que emprestamos a juros fora da realidade do mercado aproveitando a necessidade do irmão (Dt 23.19); aquela discriminação que fazemos aos pobres, analfabetos, deficientes (Tg 2.9).


2) Existe gradação de pecados ou de falhas éticas?


Lembramos aos irmãos que não existe aos olhos de Deus uma gradação de pecados (pecadinho, pecado, pecadão), pois “pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus ou a transgressão dessa lei”. As coisas citadas no item anterior, aparentemente pequenas, ferem a santidade de Deus e compromete a comunhão com Aquele que se diz Dele que é santíssimo, separado dos pecadores e feito mais sublime do que o próprio Céu. (Hb 7.26). Observem a gravidade do assunto olhando para o pecado de Adão, que ocasionou a queda de toda a humanidade (Gn 3.1-19). Aos olhos humanos o pecado de Adão não foi tão grave assim, pois ele não matou, não blasfemou, nem cometeu nenhum crime hediondo, apenas desobedeceu a uma ordem de Deus. Aos olhos de Deus aquele “pecadinho” foi uma falha gravíssima que comprometeu todo o Seu programa inicial para o ser humano, e cuja punição foi a morte. “O salário do pecado é a morte...” Rm 6.23 (Veja ainda Rm 3.23; 5.12).

CONCLUSÃO


Este artigo versou sobre a questão ética na vida do cristão. Abordamos o assunto desde a sua etimologia até a ética relacionada às pequenas coisas, aquilo que cometemos e que não são corretas aos olhos de Deus, e que não condiz com o testemunho de uma pessoa que foi regenerada pela instrumentalidade do Espírito Santo.

Se quisermos ser usados por Deus com graça e com poder precisamos levar a questão ética em consideração, inclusive a ética nas pequenas coisas, pois, Deus não usa vaso sujo. (Veja 2 Tm 2.19-21). É apropriada para o assunto a recomendação do autor de Cantares quando se referiu a pequenas coisas que estragam as grandes: “Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor” Ct 2.15.

Rev. Eudes Lopes Cavalcanti

Pastor Titular da III IEC/JPA

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